Três investigadores da Universidade de Coimbra querem reduzir o sacrifício de seres vivos na indústria de cosméticos
Três investigadores da Universidade de Coimbra (UC) desenvolveram um teste que permite avaliar o potencial alergénico cutâneo e «reduzir significativamente» as experiências com animais na indústria de cosméticos, anunciou a instituição, nesta segunda-feira.
Trata-se de «um teste inovador in vitro baseado na utilização de células de pele imortalizadas», o qual, através da análise de diversos parâmetros, permite conhecer «o potencial alergénico cutâneo de químicos antes da sua introdução no mercado».
O projeto resulta de estudos realizados nos últimos seis anos pelos investigadores Teresa Cruz Rosete, Bruno Neves e Susana Rosa, do Centro de Neurociências e da Faculdade de Farmácia da UC, e esteve na origem da empresa Toxfinder, que está em incubação no Instituto Pedro Nunes (IPN).
A Toxfinder «é uma empresa de prestação de serviços no âmbito da toxicologia», disse Teresa Rosete à Lusa, indicando que a sua equipa pretende alargar a aplicação do teste à área das alergias respiratórias.
«Estamos agora a tentar financiamentos, ao nível do Quadro Nacional de Referência Estratégico Nacional (QREN), para pôr a empresa a andar», adiantou.
Denominado Sensitiser Predictor, o teste visa evitar o sacrifício de animais em laboratório e «já foi distinguido com vários prémios nacionais e internacionais», segundo uma nota da assessoria de imprensa da Reitoria da Universidade de Coimbra.
Além de cumprir a imposição legislativa da União Europeia «no sentido de abolir a utilização de animais em testes de produtos da indústria de cosmética», o Sensitiser Predictor é um método «muito mais rápido do que os que recorrem aos ensaios em ratinhos, mais económico e passível de ser usado em grande escala», assegurou Teresa Rosete.
A docente da Faculdade de Farmácia de Coimbra salientou que os seus sócios na Toxfinder têm atualmente ligações a outras instituições científicas da região: Bruno Neves é docente da Universidade de Aveiro, enquanto Susana Rosa é investigadora do Biocant, de Cantanhede.
Com uma patente internacional em fase de avaliação, o projeto, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, carece também da validação do European Centre for the Validation of Alternative Methods, para ser considerado «teste de referência» nos países da OCDE.
Apesar da pressão da União Europeia «para se acabar com os ensaios em animais, a verdade é que ainda não existem testes alternativos para diversos itens de toxicidade, nomeadamente sensibilização cutânea», refere a nota da Universidade de Coimbra.
Para Teresa Rosete, o Sensitiser Predictor poderá marcar «a mudança de paradigma na avaliação da toxicidade» de compostos químicos, quando a comunidade científica internacional «está precisamente a apostar no desenvolvimento de métodos simples e rápidos, para substituir os testes em animais».
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